A CONSTRUÇÃO DO REAL
O ar do tempo - combustível que, com variável sofreguidão, todos inalamos - diz-nos que o documentário está na moda. Talvez não seja por acaso que essa relativa voga é contemporânea do sucesso dos reality shows e produtos televisivos afins. Nunca as histórias de vida e as cenas da vida real suscitaram tanto fascínio, a ponto de muitos pensadores serem seduzidos pela hipótese de teorizar o(s) novo(s) realismo(s) e de certos dramaturgos reivindicarem a etiqueta «teatro documental». Os festivais especializados nos docs enchem salas e aquilo que até há escassos anos parecia quase inconcebível (a saber: um documentário bater recordes de bilheteira, ou mesmo roçar o estatuto de filme-culto) tem vindo a acontecer com filmes como SER E TER, de Nicolas Philibert, OS RESPIGADORES E A RESPIGADORA, de Agnès Varda, ou ainda com as obras oscarizadas de Michael Moore.
Ora, o cinema dito documental é terreno de grandes controvérsias, a começar pela própria designação e definição do «género». Algumas delas assentam porventura em preconceitos que urge denunciar e desmontar, outras são seguramente decorrentes de diferenças notórias ao nível de todas as etapas da concepção, realização e acabamento dos filmes em causa. Por iniciativa do Instituto de Sociologia da FLUP, o seminário aberto A CONSTRUÇÃO DO REAL tentou trazer esta discussão acesa para o coração da universidade.