Fazer uma escrita é a expressão que os meus alunos de Moçambique usavam para dizer “escrever uma carta”. Os textos aqui reunidos, estas Escritas de Fonte Boa, são o conjunto das cartas que fui escrevendo em tempos de missão, ao longo de dois anos. Os destinatários colectivos dessas cartas eram muitos – familiares, amigos, colegas. Escrevi-as para ir dando notícias da nossa vida e experiências nesse lugar remoto de Fonte Boa.
Escrevi-as também pela necessidade de fazer transbordar para outros um pouquinho do nosso dia-a-dia e um cheirinho – condimentado – daquela cultura, com as suas manifestações surpreendentes e deliciosas, ou os seus episódios caricatos. Mas escrevi-as sobretudo para partilhar com quem estava longe aquilo que ia observando e vivendo, sentindo e pensando… Por isso, o tom e os matizes destas escritas foram sendo muito diversos, porque nelas eu queria fazer pulsar as alegrias e as frustrações, o encantamento e a revolta, o júbilo e a miséria. A vida que nos rodeava, escrita pelos meus olhos…